4 de ago. de 2016

O fetiche das ditaduras.

O fetiche das ditaduras.

“Não existe uma verdade igual para todos. As leis, as regras, a
cultura, tudo deve ser definido para um conjunto de pessoas; o que
vale para um lugar pode não valer para
outro”.(www.dsilvasfilho.com/index.htm)

O atual momento histórico exige afirmação dos ideais
democráticos. As ditaduras (políticas, de consumo ou de mercado) são
as maiores inimigas das palavras em diálogo e em movimento (que
denominamos democracia). As ditaduras são extremamente hábeis em
reduzir e simplificar o sentido e o significado das coisas que podemos
pensar. Só a democracia permite alargar os horizontes das ideias que
vamos construindo na história. Somente ela é capaz de considerar
contradições e imperfeições dos pensamentos, para aperfeiçoá-los. Por
conta disso, convivemos em permanente tensão entre aqueles que querem
fazer das ideias exercício de liberdade e aqueles que desejariam dizer
aos outros “o que podem e devem pensar e fazer”.

Nossa democracia ainda precisa ser muito mais exercitada,
vivida e experimentada, para ser apreendida. Vivemos, por vezes, uma
equivocada disputa entre ter posição e ser contra. As disputas,
demasiadamente ideologizadas, não permitem que as palavras/conceitos
se revelem em todos os aspectos, sob os mais diferentes pontos de
vista. Ser democrático não significa ser dono da verdade. Significa
estar aberto à construção do conhecimento, considerando as mais
diferentes interpretações das coisas e dos fatos, num processo
dialético de aprendizagem. A verdade surge no exercício do consenso,
nem sempre fácil, mas sempre necessário.
Conquistamos a liberdade de pensar, mas ainda somos
moldados em nossas ações por obra das ideias dominantes. Temos, então,
a sensação de que nossas ideias pessoais nada resolvem, de que são
fracas e impotentes. Isto comprova de que o mundo e as pessoas são
movidos por ideias, que sempre estão em disputa na sociedade. E
comprova que, isoladamente, nossas ideias perdem fôlego, não
conseguindo concretizar-se. Somente as ideias gestadas e praticadas
coletivamente conseguem romper com a lógica ideológica dominante, e
conseguem traduzir-se em prática da vida cotidiana daqueles que
resolvem assumir-se como sujeitos de seus conhecimentos e de sua
história.

O problema é que nas ditaduras não somos educados para a cooperação e
a solidariedade. Prevalece a cultura hedonista (de culto ao eu), que
reproduz a ideia e o conceito dos vencedores. Aos vencedores, a
glória. Aos vencidos, os sentimentos de incompetência, revolta e
impotência. E estes últimos sentimentos geram muitas tensões sociais e
de convivência, desfavorecendo nossa condição de seres em relação.

A autonomia dos sujeitos é o maior marco da concretização de uma
democracia real e verdadeira. A luta por democracia invoca novas
relações interpessoais, baseadas na interdependência e na
reciprocidade. Jean Piaget, ao estudar o juízo moral das crianças, nos
ajuda a considerar que “a autonomia só aparece com a reciprocidade,
quando o respeito mútuo é bastante forte, para que o indivíduo
experimente interiormente a necessidade de tratar os outros como
gostaria de ser tratado”.

Não é democrática a sociedade que não tolera os pensamentos
divergentes e que combate as diferentes formas de organização social
que buscam praticar e viver as ideias coletivas. Democrática é a
sociedade que permite aos homens e mulheres realizarem-se em sua
dignidade, preservando seu modo de ser, pensar e agir, individual e
coletivamente. Pratiquemos e aprendamos, pois, a democracia,
intensamente, sem nenhum culto às ditaduras.

Afirmemos, definitivamente, a democracia como a solução dos problemas
coletivos. Fora da política (e da democracia) não há caminhos que
promovam a dignidade e a liberdade humanas!

Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos
Mais artigos no site www.neipies.com

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