26 de jun. de 2013

O Brasil, de Copa em Copa.

O Brasil, de Copa em Copa.

“Prefiro as vaias da democracia
aos aplausos da ditadura” (Presidenta Dilma Rousseff)

O jogo da final da Copa das Confederações de 2009 ainda serve como uma referência para avaliar o comportamento dos jogadores em campo e dos brasileiros nas ruas, mas também de ambas as seleções e nacionalidades. Faremos uma análise daquela final de copa como um torcedor e cidadão brasileiro, buscando angariar subsídios para a compreensão do momento histórico pelos quais passava e porque passa o Brasil, agora acordado pela multidão de jovens que se manifestam nas ruas.
A expressão “Yes, we can” (sim, nós podemos), foi o mote da campanha que elegeu (e reelegeu) o presidente americano Barack Obama. Esta expressão máxima foi divulgada como inspiração da seleção americana para o jogo da final da Copa das Confederações, no domingo, dia 28 de junho de 2009. Os brasileiros, mesmo sem nunca falar e assumir esta expressão como uma máxima, tem demonstrado, ao longo dos últimos anos, que pode mais com suas habilidades, criatividade, ousadia, principalmente quando se encoraja a demonstrar sua cidadania nas ruas para exigir mudanças que ampliem sua qualidade de vida e seus direitos.
Vejamos a retrospectiva daquele jogo. O primeiro tempo foi absolutamente dominado pela supremacia pragmática do futebol americano. Apesar das tentativas brasileiras jogando em direção à trave do adversário, os americanos é que souberam aproveitar ao máximo as duas únicas oportunidades do jogo, com dois gols. A seleção brasileira jogou apática. A seleção americana jogou soberana. No segundo tempo, as duas seleções mudaram radicalmente suas atitudes em campo. Por um lado, a seleção brasileira emergiu do marasmo e teve atitude altiva de quem almejava jogar para ganhar. A seleção americana, por sua vez, segurou-se para manter o resultado, mas cedeu ao empate e depois ao gol que consagrou o Brasil campeão.
A seleção brasileira de 2009, a exemplo de como age seu povo, jogou o segundo tempo com criatividade, persistência, ousadia e liderança, características próprias de uma nação emergente e com reconhecida capacidade política no cenário internacional. Tinha nos pés de seu maior líder e capitão Lúcio, a referência e a garra para as jogadas. Jogou com espírito de equipe, usando meio e laterais do campo como há tempo a seleção brasileira não ousava jogar. Dunga escalou uma equipe, mas contou novamente com o diferencial de jogadores como Kaká e Luis Fabiano.
A seleção americana, por sua vez, não sustentou o jogo com seu jargão. Não soube reagir diante das investidas dos brasileiros, rumo ao gol, no segundo tempo. Seu jogo pragmático e de resultados rendeu-se ao jogo da criatividade e persistência dos brasileiros. Os jogadores americanos foram incapazes de mudar seu comportamento em campo, dificuldade que também parece estar presente em sua nação, quando esta joga na economia e na política e precisa se recuperar.
Se Roberto Gomes escrevesse hoje seu livro “Crítica da Razão Tupiniquim”, ainda escreveria sobre a não existência de pensadores e filósofos que pensam o Brasil (parece que o Brasil ainda não é suficiente sério para ser pensado), mas certamente concordaria de que o Brasil construiu condições para a sua auto-afirmação: recuperou a credibilidade, joga como uma grande equipe e devolveu ao povo a esperança e a auto-estima. Ademais, amadureceu como nação e é uma prova que a democracia lhe faz muito bem.
Quando os brasileiros jogam com futebol e com cidadania, manifestando-se de forma pacífica, com esperança e com perseverança, podem muito mais. Podem, inclusive, virar o jogo da vergonha. Podem ganhar o placar contra alguns poucos brasileiros que jogam com a corrupção em obras que envolvem dinheiro público. Pode desmascarar o pragmatismo da política para construir uma sociedade mais democrática e mais real. O Brasil tem jeito, acreditem... O Brasil é brasileiro, ao modo de sua gente! O detalhe é que estamos em uma nova Copa e num outro momento histórico. Resta saber como jogaremos, na arena do futebol e da política.

Nei Alberto Pies, professor e ativista em direitos humanos

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