15 de jun. de 2011

ANTES TARDE QUE MAIS TARDE

Antes tarde que mais tarde

“Cada um de nós compõe a sua história /e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz” (Almir Sater e Renato Teixeira, em canção Tocando em Frente)

Um dos grandes desafios do ser humano é constituir-se sujeito social. Esta é uma luta de natureza interna de cada um, mas que também depenmde muito de fatores como empatia, carisma, capacidade de articulação com os outros, oportunidades que nos são concedidas, competência profissional, dentre outros. Enganam-se aqueles que pensam que a gente se basta a si mesmo; o reconhecimento que todos desejamos é sempre passível de revisão, pela gente e pelos outros, a partir de critérios como confiança, o momento conjuntural, a efetivação de resultados, as conveniências ou inconveniências.
Em todo lugar em que interagimos mais intensa e permanentemente com os outros surgem possibilidades de ascendermos nossa liderança e reconhecimento, seja na família, nos clubes, grêmios estudantis, salas de aula, escolas, sindicatos, associações, igrejas, grupos diversos. Geralmente não são meteóricas as ascensões e o reconhecimento social, uma vez que é necessário conquistar a confiança a partir das redes de relações e contatos que vamos construindo. Para tanto é preciso por em prática um conjunto de estratégias que consolidem a representação social a qual nos dispomos a exercer. Tudo no seu devido tempo e nas oportunidades legitimadas, pois ninguém tolera os oportunistas de ocasião ou, se os tolera, não por muito tempo.
Os mais atentos e ativos membros dos diferentes grupos sociais estão sempre a observar aqueles que se destacam em habilidades, atitudes e posicionamentos. Assim, percebem quem pode dar contribuições para a sua organização e por isso fazem experimentações para certificar-se se podem contar com as competências e com a confiança requeridas. Mas também rapidamente percebem quando alguém força situações que não estão associadas à sua verdadeira identidade. O certo é que só podemos dispor daquilo que somos, daquilo que compõe a nossa trajetória e experiência pessoal e profissional, e nada adianta tentar esconder.
Sobretudo, para que galguemos êxito em nosso reconhecimento social, precisamos saber o momento e a hora de avançar e a hora de recuar. Se antes tarde que mais tarde, nada como um dia ou semana após outra, assim também nenhum reconhecimento forçado emplaca meteoricamente. O reconhecimento social que vier construído a partir de um grupo, de uma discussão ou de uma estratégia política mais ampla para além da gente tende a ser muito mais duradouro, consistente e legitimado. Contudo, cada um, por sua conta, também deve construir as melhores e mais coerentes estratégias para que possa ser reconhecido pelos outros.
Não nos faltam exemplos, bons e ruins, de como é construída a legitimidade no poder político, nas agremiações partidárias, nos clubes e associações, nos sindicatos, nos órgãos de governo. Geralmente quando os processos em que os sujeitos da ação política forçam sua legitimidade, os mesmos são desmascarados na primeira crise, no primeiro questionamento ou embate em que se precisam demonstrar capacidades e habilidades mais do que técnicas, mas também políticas, que dependem da qualidade da interação e do relacionamento interpessoal.
Antes tarde que mais tarde seja dado a todos o direito de constituir-se sujeito social. Que todos possam ser o que são, sem que tenham desqualificada a sua honra, a sua história pessoal e profissional e a sua dignidade. Os que ousarem nos enganar, não conseguirão por muito tempo.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

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