1 de fev. de 2016

Perigo de simplificar o que é complexo

Perigo de simplificar o que é complexo

 Inspiro-me em leituras da edição do Zero Hora de 31 de janeiro de 2016. A leitura cotidiana deste importante jornal do sul do país me tornou um “consumidor crítico” de informação, com destaque às publicações dominicais. A variedade de opiniões, de diferentes colaboradores, permite a mim e aos demais leitores conhecer referências que dialoguem com as convicções e as perspectivas pessoais de cada um.
 A coluna de Luciano Potter me instigou a refletir e confrontou-me com minhas convicções e experiências como professor e ativista de direitos humanos. O que ele escreve: “direitos humanos foi uma pauta encampada pelo Partido dos Trabalhadores. Por isso as pessoas odeiam direitos humanos. Se o PT defendesse a pizza, pizzarias quebrariam”. Ora, a concepção de direitos humanos como dignidade antecede a toda a criação e fundação do PT, sempre associada às “maiorias oprimidas”. No Brasil, ocorreu uma intencionada e errônea associação de direitos humanos com organizações e partidos de esquerda e com a igreja progressista assim que os mesmos organizaram, inicialmente, e de forma sistemática, lutas por mais liberdade, pela anistia aos presos políticos e pela reparação dos crimes cometidos pela longa e injustificável ditadura militar (1964-1985). Na mesma edição do jornal artigo de Tâmara Biolo Soares, em caderno ZH Proa, dá resposta à errônea afirmação de Luciano: “As atrocidades da II Guerra Mundial fizeram nascer a preocupação da comunidade internacional com a proteção dos direitos humanos. É nesse período que se internacionaliza a proteção aos direitos humanos, com a criação de tribunais de jurisdição universal.....Esses instrumentos regionais de proteção aos direitos humanos são, portanto, o resultado de uma construção civilizatória e compartilhada entre as diversas sociedades de que os Estados devem obedecer a limites ditados pelos princípios da dignidade humana no tratamento dos indivíduos sob sua jurisdição”. Esta concepção de direitos humanos é fruto de lutas sociais intensas e permanentes que inclusive permitem esta minha manifestação.
Flávio Tavares, jornalista e escritor e Diana Lichtenstein Corso, psicanalista, assinam artigos que ajudam a entender a disputa ideológica em torno das saídas para a crise política e crise econômica que pautam o momento histórico em nosso país. Ao descrever Bolsonaro e as suas intempestivas investidas contra a democracia e os direitos humanos, Flávio Tavares sentencia: “os cultivadores da violência vivem em função do rancor e adoram fingir-se de “vítimas” para não ouvir aos demais. Não admitem o diálogo e nem a convivência com quem não seja como eles. Tomam o ódio como coragem e a iniquidade como fundamento. E, assim, sabem da violência mais do que ninguém”. Diana Corso, ao descrever a fragilidade e a força da democracia e o poder subversivo da literatura, da poesia e da arte faz importante constatação: “a escuridão política começa com o enrijecimento das almas. A ascensão das piores ditaduras nasceu de disputas políticas, de crises econômicas, mas atendia ao impulso popular de simplificar a vida. É uma tentação eleger inimigos fáceis e sentir a satisfação de eliminar todos aqueles que forem apontados como discordantes. O obscurantismo nasce também da preguiça do pensamento”.
            Para não sucumbir à tentação de sempre simplificar a vida e os conflitos sociais, inerentes da democracia, precisamos encorajar nosso pensamento crítico e nossa capacidade de reagir para defender nossa nobre e sempre frágil democracia.
Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos.

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