10 de jun. de 2015

Ciranda da felicidade.

Ciranda da felicidade.

Quando chega dezembro, a tendência das pessoas é tornar mais evidente seu cansaço e stress pelo trabalho e empenho de um ano inteiro. Mas aí chegam também as esperanças renovadas pelas festas de final de Natal e final de ano, emendadas com as férias docentes. Para os professores em Ciranda, chegou também a oportunidade de discutir felicidade, antes mesmo do término das atividades escolares e das grandes festas.
A Ciranda pretendia discutir Para quê ser feliz? A convidada, uma psicóloga chamada Ana Manoela inverteu, desde o início de sua provocação, as perspectivas do senso comum de felicidade.  Começou citando Samuel Becket:  “passa-se a vida esperando que disso resulte uma vida” . Emendou dizendo que vivemos verdadeira ditadura da felicidade e bem estar. Que existem ideais de felicidade, sempre metricamente projetados com metas e objetivos. Que a felicidade geralmente condiciona-se ao SE....  e somente SE... (um evento do futuro). Provocou-nos dizendo que o esforço que a gente faz para ser feliz é, muitas vezes, justamente o que nos deixa tristes e frustrados por não conseguirmos alcançar o que desejaríamos.
A frustração, a palavra NÃO, constituem o indivíduo. Ninguém faz sua vida só recebendo elogios e estímulos. A vida de todos é permeada por constantes questionamentos e críticas. Mas parece que as tristezas, as críticas e as cobranças não servem para nossa realização humana. Mas quem disse que sentir-se triste e infeliz é menos nobre que a felicidade? A crítica me fará muito mal se eu tiver internalizado comigo que sou um fracassado, uma pessoa fraca e infeliz.
A verdadeira felicidade não está condicionada a algo ou alguém, ela sempre é resultado de um processo interno e individual. Dito de outra forma: a felicidade parece nunca estar fora da gente, mas faz sempre parte da gente. Vem de dentro da gente.
O Brasil, segundo recentes pesquisas sobre felicidade, estaria à frente de Alemanha e França, justamente países onde há maior ingestão de medicamentos depressivos. Por que seríamos mais felizes do que pessoas de outros países?
A felicidade na perspectiva da Cirandeira é uma construção pessoal e social. Ninguém é feliz no meio do CAOS. Por isso mesmo, cada um deve descobrir razões pelas quais vale a pena viver e doar a sua vida.
Finalizando sua função provocadora, Ana Manoela surpreendeu ao afirmar que sangue não faz vínculos e não alimenta afeto, necessariamente. Que ninguém tem obrigação de amar alguém, mas que a vida e a felicidade se fazem a partir de vínculos e reciprocidades.
As experiências individuais relatadas serviram felicidade para que nos percebêssemos próximos na busca, mas muito diferentes nos resultados e nas vivências cotidianas deste nosso maior desejo humano. Foi uma Ciranda muito rica, densa e reflexiva, com oportunidades para todo mundo dizer-se!

Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos.

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