Ciranda da felicidade.
Quando chega
dezembro, a tendência das pessoas é tornar mais evidente seu cansaço e stress
pelo trabalho e empenho de um ano inteiro. Mas aí chegam também as esperanças
renovadas pelas festas de final de Natal e final de ano, emendadas com as
férias docentes. Para os professores em Ciranda, chegou também a oportunidade
de discutir felicidade, antes mesmo do término das atividades escolares e das
grandes festas.
A Ciranda
pretendia discutir Para quê ser feliz? A convidada, uma psicóloga chamada Ana
Manoela inverteu, desde o início de sua provocação, as perspectivas do senso
comum de felicidade. Começou citando
Samuel Becket: “passa-se a vida
esperando que disso resulte uma vida” . Emendou dizendo que vivemos verdadeira
ditadura da felicidade e bem estar. Que existem ideais de felicidade, sempre
metricamente projetados com metas e objetivos. Que a felicidade geralmente
condiciona-se ao SE.... e somente SE...
(um evento do futuro). Provocou-nos dizendo que o esforço que a gente faz para
ser feliz é, muitas vezes, justamente o que nos deixa tristes e frustrados por
não conseguirmos alcançar o que desejaríamos.
A frustração,
a palavra NÃO, constituem o indivíduo. Ninguém faz sua vida só recebendo
elogios e estímulos. A vida de todos é permeada por constantes questionamentos
e críticas. Mas parece que as tristezas, as críticas e as cobranças não servem
para nossa realização humana. Mas quem disse que sentir-se triste e infeliz é
menos nobre que a felicidade? A crítica me fará muito mal se eu tiver
internalizado comigo que sou um fracassado, uma pessoa fraca e infeliz.
A verdadeira
felicidade não está condicionada a algo ou alguém, ela sempre é resultado de um
processo interno e individual. Dito de outra forma: a felicidade parece nunca
estar fora da gente, mas faz sempre parte da gente. Vem de dentro da gente.
O Brasil,
segundo recentes pesquisas sobre felicidade, estaria à frente de Alemanha e
França, justamente países onde há maior ingestão de medicamentos depressivos. Por
que seríamos mais felizes do que pessoas de outros países?
A felicidade
na perspectiva da Cirandeira é uma construção pessoal e social. Ninguém é feliz
no meio do CAOS. Por isso mesmo, cada um deve descobrir razões pelas quais vale
a pena viver e doar a sua vida.
Finalizando
sua função provocadora, Ana Manoela surpreendeu ao afirmar que sangue não faz
vínculos e não alimenta afeto, necessariamente. Que ninguém tem obrigação de
amar alguém, mas que a vida e a felicidade se fazem a partir de vínculos e
reciprocidades.
As
experiências individuais relatadas serviram felicidade para que nos
percebêssemos próximos na busca, mas muito diferentes nos resultados e nas
vivências cotidianas deste nosso maior desejo humano. Foi uma Ciranda muito
rica, densa e reflexiva, com oportunidades para todo mundo dizer-se!
Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos.
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