Democracia dos professores
Os homens constroem paredes demais e pontes de menos (D. Pire)
A escola pública e democrática, bem como as eleições que escolhem os representantes da categoria dos professores e professoras é hoje uma conquista institucionalizada, mas que, na prática, ainda está longe de ser realidade plenamente vivenciada nas escolas e nos sindicatos ou associações de professores. Embora os professores sejam as grandes referências para a cidadania e a luta por direitos para os seus alunos, nem sempre estes tem uma ação politizada eficiente quanto tratam de organizar os seus interesses e oas interesses da educação.
A crítica maior que podemos fazer aos sindicatos de professores é que
estes centraram sua atuação apenas nas reivindicações salariais, deixando de
atuar de forma mais ampla na perspectiva da educação. Os sindicatos se
transformaram em máquinas administrativas anti-governos, descuidando dos
interesses mais imediatos e significativos da vida funcional dos professores e
da educação, de maneira geral.
Não são mais os professores que debatem a educação. O descuido para com
as questões mais amplas e mais complexas da educação gerou um grande vácuo,
agora ocupado por outros especialistas, de outras áreas, como economistas,
sociólogos, filósofos. É inegável que eles tenham algo a dizer sobre a
educação, mas suas reflexões não refletem o cotidiano da complexidade do dia a
dia da educação.
As escolas são grandes laboratórios de exercício de poder. Cotidianamente, através das relações interpessoais, elas administram as suas tensões internas, fortemente influenciadas pelo poder externo (dos governos e da comunidade). E os professores, peças chave desta engrenagem, nem sempre são considerados em suas dimensões humanas e como sujeitos de sujeitos. Professores não são números. Professores são sujeitos, seres humanos, com suas opções pedagógicas e ideológicas. O exercício de seu ofício não lhes permite neutralidade, pois a educação é, por natureza, um ato político. Suas práticas pedagógicas resultam de suas trajetórias pessoais, de seus compromissos com o ser humano e de seus conhecimentos e aperfeiçoamento profissional.
Ao escolher os seus representantes, os professores deveriam escolher dentre aqueles que, além de competências técnicas e de organização sindical e política, sejam capazes de construir “mais pontes e menos paredes”. Que pensem o Sindicato ou a associação de professores como uma estratégia de valorizar seus professores, articulando-se com outras entidades a fins de promover mudanças substantivas na educação. Que utilizem o Sindicato para representar verdadeiramente os professores, não os interesses pessoais ou de partidos políticos.
O exercício do poder democrático é um dever e um legado que os professores podem deixar para a sociedade como um todo; esta é sua contribuição para a consolidação da democracia no Brasil.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.
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