10 de out. de 2011

DE POLÍTICOS E DE ANJOS

De políticos e de anjos
“Não somos anjos em voo vindos do céu, mas pessoas comuns que amam de verdade. Pessoas que querem um mundo mais verdadeiro, pessoas que unidas o mudarão”. (Gente, de A. Valsiglio/Cheope/Marati).
Muitos, dentre a gente, gostariam que políticos fossem anjos. Se assim fosse, estaríamos imunizados contra todas as situações e oportunidades que não promovem o bem comum, que deturpam a cidadania e que não favorecem a prática da bondade. Mas os políticos, assim como cada um de nós, são seres humanos, ou seja, imperfeitos. A política não é um espaço para a ação de anjos, mas é o espaço de disputa dos mais diferentes interesses que estão em jogo na sociedade. A disputa destes interesses é legítima, desde que os mesmos estejam sempre bem explicitados, para que todos saibam o que move aqueles que se propuseram os interesses da maioria da população. 
As contradições no exercício do poder estão sempre presentes nos movimentos que operam a política. Os políticos posicionam-se a partir das conjunturas e contextos de cada momento, das articulações e negociações que são possíveis para aprovar os projetos que estão em pauta, das forças sociais que estão mobilizadas em cada momento histórico. É natural que joguem com seus interesses, mas é inaceitável, numa democracia, que estes interesses sobreponham-se aos interesses coletivos.
As agremiações partidárias (partidos políticos) expressam e materializam os projetos em disputa na nossa cidade, estado ou país. Estes projetos traduzem-se em propostas concretas de como governar, de como construir as políticas públicas, de como distribuir a renda, de como construir as oportunidades, de como desenvolver uma cidade, um estado, uma nação. Há então que se discernir sempre que há diferenças do voto em pessoas ou do voto em projetos, que embora “sempre juntos e misturados”, traduzem-se em diferentes consequências. “O voto não tem preço, tem consequências”. Por isso mesmo, é necessário sempre contemporizar as posições e atitudes pessoais de cada agente político com os projetos que ele representa, observadas as circunstâncias e as intencionalidades em que ambas acontecem. Nenhuma ação ou virtude deve ter um peso considerado isoladamente.

Os políticos não os anjos e não representam a si próprios, mas representam interesses que estão em disputa na sociedade. Talvez até fosse melhor sermos governados por anjos, seres sobrenaturais e imunes a qualquer interesse mundano. Mas diante desta impossibilidade, via de regra, deveriam sempre valer muito mais os projetos com os quais os políticos estão comprometidos. Nestes projetos, a vida e a dignidade humana, o apreço pela liberdade e pelo bem comum são componentes que jamais podem ser negociados. Neste contexto, talvez, exerçamos algum poder de anjos.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos. (pies.neialberto@gmail.com)

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