17 de nov. de 2012

DA FORÇA DO AMOR...

Da força do amor
“O amor é doação. Tudo o que contradiz a doação, machuca”.

O amor é uma das idéias mais revolucionárias, capaz de garantir condições de vida em segurança. O medo, valor tão propagado e vivenciado por conta da violência cotidiana, não pode nos apequenar diante dos desafios de sempre construir vida na dignidade, a partir de relações de respeito, consideração e apreço de um para com o outro. O medo nos protege e não irá nos desencorajar para a vivência e a convivência humana.

Nossa civilização “encaixotou” o afeto. O afeto estimula a criarmos as condições para nossa plena realização. O ser humano é um ser em construção, por isso mesmo exige investimentos afetivos a vida toda. O cuidado, como algo essencial e que constitui a nossa condição humana, deve ser resgatado se quisermos devolver à humanidade o verdadeiro sentido de sua existência.       
                                                     
Não sobrevivemos se não somos bem cuidados. Na escala dos seres vivos, somos os mais dependentes de todos. Saímos da barriga da mãe, caímos nos braços de uma família. Aos poucos vamos crescendo e nos integrando aos grupos sociais da escola, da vizinhança, dos amigos, dos colegas de trabalho. E cada fase de nossa vida exige que sejamos cuidados e que saibamos cuidar, da gente e dos outros.

A necessidade do cuidado e as carências afetivas, próprias do ser humano, não constituem nenhuma fraqueza. O que nos torna fortes e capazes de superar as contradições é a coragem de assumirmos nossas carências, pois estas é que nos desafiam para o crescimento e discernimento pessoal, afetivo e social. As relações que se constituem na partilha, na compreensão, na doação, na gratuidade e na confiança são oportunidades que muitos constroem por acreditarem que sua realização depende da integração, convivência e complementariedade a serem construídas junto com os outros. São também excelentes oportunidades de vivenciar a doação, pois vida existe se for compartilhada.

Redescobrir-se em permanente relação com os outros é a grande contribuição que cada um pode oferecer para a elevação de uma consciência de humanidade. Reconhecer e vivenciar valores como a solidariedade, a amizade, o amor, a partilha e a alteridade pode nos possibilitar um mundo com menos violentos e menos violentados.

A solução para os problemas de convivência social não passa pela construção de novos presídios e nem pelo endurecimento de nossas leis. A solução passa pela promoção da vida e da humanidade, através do cultivo de relações de respeito, amor e afeto. Passa também pela promoção da justiça. Romantismo? Não para os que acreditam que o amor é sempre maior do que o medo e a dor. O amor sempre foi a inspiração dos grandes mestres como Jesus Cristo, Madre de Calcutá, Gandhi, Dallai Lama, Chico Xavier e outros tantos mais. Aprendamos com eles se quisermos sobreviver plenamente realizados e livres.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.
                                                       


18 de out. de 2012

POLITICA...

De marcas e identidades políticas
 
“A política é a arte do possível. Toda a vida é política”. (Cesare Pavese)

            Depois das eleições, é comum que diferentes pontos de vista sejam empenhados para justificar os resultados e o suposto recado da população através das urnas. Para além destes elementos, é importante destacar como os políticos, agora eleitos, foram conquistando para si a confiança dos outros e como foram capazes de mobilizar mentes e corações que os acompanharam durante o período eleitoral. Nas eleições municipais, a proximidade, o conhecimento e reconhecimento dos candidatos somam-se para a definição e tem certo peso na definição das escolhas.
Cada um de nós compõe a sua história social. Somos o que somos e o que representamos. Em torno da gente, construímos um ideário que se compõe a partir das nossas ideias e atitudes, das nossas relações pessoais e interpessoais e dos nossos posicionamentos em relação à vida, à sociedade e o mundo. Todos somos seres políticos e “toda a vida é política” porque viver em sociedade exige posicionamentos, opções e virtudes, permanentemente. Quem se dispõe à vida pública deve saber que todos estes elementos serão avaliados e confrontados com aquilo que propõe como soluções coletivas. Daí que não é possível separar a pessoa da função ou do cargo e vice-versa.
A política, para além da busca do bem-comum, é uma grande paixão que alimenta horizontes utópicos pessoais e coletivos. Cada candidato, ao longo de sua vida, foi construindo um capital social que, nas eleições, colabora para criar uma identidade com o seu eleitor. Este capital é social porque construído na relação com a comunidade, com o partido e com seus pares (apoiadores). Muitos chamam este capital de carisma, de marca, de imagem, de identidade própria, de peculiaridade.
Quando o marketing e a propaganda política traduzem e afirmam a identidade dos candidatos, cumprem papel preponderante para subsidiar a escolha dos eleitores (ao ler esta reflexão você pode estar avaliando o quanto foi influenciado pela propaganda e mídia na decisão de seu voto). Do contrário, a propaganda soa falsa, não cola na imagem do candidato e passa ao eleitor uma ideia de falsidade ou inverdade.
Contexto político e econômico favorável, apoio político, fala boa e bem articulada, boa comunicação, marketing e argumentos bem construídos nem sempre são suficientes para ganhar uma eleição. Ao analisar boa parte dos prefeitos eleitos em nosso país, inclusive os muito bem votados, podemos constatar que, em grande medida, a maioria elegeu-se também por conta de sua marca e identidade pessoal na vida pública. Daí a imaginar que, se não preponderante, a marca e a identidade pessoal são um grande “plus” para quem deseja ganhar uma eleição.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

DIA DO EDUCADOR...

Ser professor, por ofício.
É muito natural que um filho aprenda a trabalhar ajudando o pai, com este a seu lado. Há muitas profissões e ofícios – digníssimos e necessários – que não se aprendem nos livros. A vida está cheia de tarefas que apenas se aprendem quando se trabalha nelas. (Paulo Geraldo)

Educar não é uma tarefa simples, mas um ofício que vamos aperfeiçoando ao longo de nossa vida profissional. O tempo que atuamos como professor, em sala de aula, nos garante certa experiência, mas é certo que, como ofício, educar sempre é um processo de permanente construção. Às vezes, determinadas experiências pedagógicas exitosas ou marcantes acabam imprimindo caráter de perpetuação de nosso jeito de ensinar. Por isso mesmo, sempre é importante separar, para compreender, os “ossos de nosso ofício” da dureza da realidade em que estamos a atuar, em nossas escolas. E semear esperança.
O dicionário de língua portuguesa define ofício como sendo “qualquer atividade especializada de trabalho; profissão; emprego; meio de vida”. Definir a especificidade de nosso ofício nem sempre é fácil, uma vez que o “produto” de nossos investimentos são as pessoas. O que define as pessoas é a capacidade de criar, de pensar e sua condição de liberdade. Certo é que nem sempre os conhecimentos que julgamos importantes batem com as necessidades, desejos e angústias das nossas crianças, adolescentes, jovens ou adultos. E nem sempre nos sentimos preparados para contornar os embaraços que estas situações provocam em nossa sala de aula.
De acordo com o que reza nossa Constituição, “a educação, direito de todos e dever do estado e da família, visa o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Os conceitos são abstratos, mas fundamentais para compreendermos o sentido de nosso ofício de educar. Trata-se de compreender que a educação invoca a integralidade, envolvendo todas as dimensões do ser humano. Neste sentido, educar significa construir as possibilidades de nos humanizar, de nos fazermos gente, sempre e em todo lugar.
Quem de nós trocaria de profissão? A maioria não trocaria, apesar de admitir a dificuldade de educar numa sociedade que educa na contramão da escola. Já a questão da realização pessoal de cada um e cada uma na escola tem a ver com as expectativas que construiu ao assumir a educação, como também com o grau de frustrações que acumulou ao longo de nossa vida profissional. Nem a escola e nem a família, sozinhas, mudarão o mundo se o mundo não decidir que é preciso mudar. Por isso mesmo, enquanto esta consciência coletiva não for majoritária na sociedade, nosso ofício de educar continuará árduo e penoso, não reconhecido.
O saudoso e querido educador Paulo Freire, ao se referir ao dia do professor, lembrou que “a data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas
“galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”. Sejamos, pois, sempre portadores e agentes da esperança. E nos mantenhamos sempre dispostos a aperfeiçoar o ofício de ensinar pelo qual doamos uma vida toda.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

8 de ago. de 2012

DE INFANCIA E DE SAUDADES DA TERRA.

De infância e de saudades da terra

“Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: “Coitado, até essa hora no serviço pesado”. Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo”. (Poema Ensinamento, Adélia Prado)

            Muitos, como eu, nasceram e viveram a infância na roça. Eu sinto orgulho de ser um filho da roça, porque a vida no “interior” me ensinou valores muitíssimo finos e refinados. Na companhia de árvores frutíferas, animais, nascentes, riachos e lavouras, as pessoas que lá residem formam verdadeira comunidade. Comunidade quer dizer comunhão, integração, relação. Esta comunhão se perdeu na vida urbana atribulada e estressante. Todo o tempo na cidade tem que ser um tempo ocupado. Não temos mais tempo para curtir o próprio ritmo (do tempo).
Roça é um lugar de fartura, mas também de muito trabalho. Iludem-se aqueles que pensam que uma “chácara” é um lugar maravilhoso sem dar muito trabalho. Para quem não pode oferecer seu trabalho, terá de ofertar dinheiro para que alguém cuide, zele e organize o ambiente, para poder desfrutá-lo lindo, aconchegante e organizado. Neste sentido, não podemos romantizar o trabalho de quem cuida da terra; é preciso reconhecê-lo e valorizá-lo com a grandeza que ele merece.
            Quantos, como eu, matam saudades de sua terra visitando propriedades que ainda resistem em levar adiante um estilo de vida interiorano! Colhem, no inverno abundante das frutas, o sabor de suas saudades e recordações. Visitam matas, riachos, casas, salões comunitários, em busca de algo que um dia deixaram para trás: a simplicidade e a compaixão pela terra.
            Como ilustram os versos acima, os valores da roça confundem-se com as necessidades mais imediatas de quem lá reside e faz de seu trabalho e suor o próprio modo de vida. Os pequenos agricultores ou camponeses ainda preservam os valores da gratuidade e da reciprocidade que aprenderam na relação com os outros, com a natureza e com o mundo. Nem tudo na roça tem preço, mas tudo na roça tem o seu valor.
            As relações com a natureza, particularmente através das semeaduras, reservam ao homem e à mulher do campo a noção do tempo, que é a mesma noção da paciência. Quem espera colher, precisa saber esperar. Quem espera colher, precisa pacientemente acompanhar a renovação da vida em cada amanhecer e em cada anoitecer. Quem deseja recuperar a terra, precisa investir insumos, cuidados e tempo.
            Só podem sentir saudades aqueles e aquelas que já experimentaram a vida da roça. Para estes, são necessárias brechas em sua conturbada agenda urbana para cultivar flores, frutas, hortaliças, chás, verduras. Não há nada mais contagiante e gratificante do que o alvorecer de vidas que dependem de terra, de ar, de água e de cuidados pacientes e permanentes.
 A natureza nos permite a compreensão da própria existência. A vida na roça nos fornece importantes aprendizagens sobre os próprios desafios do ser humano. Valorizando a terra, estaremos sempre valorizando a nossa dimensão de humanidade e dignidade.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

4 de ago. de 2012

Politica, Politicos, Exercicio do Poder


Políticos: por virtudes ou oportunismos.

 “Não somos anjos em voo vindos do céu, mas pessoas comuns que amam de verdade. Pessoas que querem um mundo mais verdadeiro, pessoas que unidas o mudarão”. (Gente, de A. Valsiglio/Cheope/Marati).

Muitos de nós gostaríamos que os políticos fossem anjos. Se assim fosse, estariam imunizados de todas as situações e oportunidades que não promovem o bem comum e a prática da bondade. Mas os políticos, assim como cada um de nós, não são anjos e sim, humanos, também não perfeitos. A política não é um espaço para a ação de anjos, mas o espaço de disputa dos mais diferentes interesses que estão em jogo na sociedade. A disputa destes interesses é legítima, desde que os mesmos estejam sempre bem explicitados, para que todos saibam o que move os candidatos quando se propõem a representar os interesses da população.
 As contradições no exercício do poder estão sempre presentes nos movimentos que operam a política. Os políticos posicionam-se a partir das conjunturas e contextos de cada momento, das articulações e negociações que são possíveis para aprovar os projetos que estão em pauta, das forças sociais que estão mobilizadas em cada momento histórico. É natural que joguem com seus interesses pessoais, mas é inaceitável, numa democracia, que estes interesses sobreponham-se aos interesses coletivos.
As agremiações partidárias (partidos) expressam e materializam os projetos de sociedade que estão em disputa nas cidades de nosso país. Estes projetos traduzem-se em propostas concretas de como governar, de como construir as políticas públicas, de como distribuir a renda, de como construir oportunidades de desenvolvimento das nossas cidades e da própria nação. Há então que se discernir a diferença entre votar em pessoas ou votar em projetos, que embora “sempre juntos e misturados”, traduzem-se em diferentes consequências. “O voto não tem preço, mas tem consequências”. Por isso mesmo, é possível contemporizar as posições e atitudes pessoais dos candidatos com os projetos que os mesmos representam, observadas as circunstâncias e as intencionalidades em que ambas acontecem.
Os candidatos não representam a si próprios, mas representam interesses que estão em disputa na sociedade. Talvez fosse melhor sermos governados por anjos, seres sobrenaturais imunes a qualquer interesse mundano. Como não é possível, cabe a cada um e cada uma avaliar o projeto com o qual cada um dos candidatos está comprometido. Neste projeto, o compromisso com a vida humana, com a sociedade e com as virtudes é o bem maior que deve ser resguardado, pelos candidatos e pela gente.


Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos