31 de out. de 2011

DOS VALORES DA LIBERDADE

Dos valores da liberdade

“Não há na Terra, de acordo com minha opinião, felicidade igual à de alcançar a liberdade perdida”. (Cervantes)

A liberdade, a partir das concepções modernas, associa-se a outras virtudes como a justiça e a igualdade. Pela liberdade garante-se a vontade individual, mas cada torna-se responsável por suas atitudes e ações. Como ideia estruturadora das relações sociais, a liberdade move os ideais democráticos. A liberdade humana é sempre um valor pelo qual muitos resolvem pagam alto preço.
Descrever sobre os fenômenos depois que os mesmos aconteceram é sempre mais fácil do que prevê-los, antecipando desfechos. Mas se é tão difícil prever antecipadamente os desfechos, aprendamos com eles a partir de seus substratos (aquilo que forma a essencialidade do ser, sobre o que repousam seus atributos, o que serve de base a um fenômeno).
A queda das ditaduras nas nações árabes da África e do Oriente Médio demonstra que o povo até suporta ditaduras, desde que as mesmas não usem dos mesmos artifícios de opressão daqueles que foram destituídos por estes que por ora estão no poder. O povo não suporta traição, o povo não suporta que alguém se declare dono de tudo e de todos. O povo não tolera privilégios inescrupulosos. Quando isto acontece, levanta a voz, grita por liberdade e luta por possibilidades de vida menos tiranas, mesmo não sabendo prever até quando usufruirá desta nova conquista. A esperança de dias melhores, em todos os sentidos, é sempre o horizonte de quem luta por liberdade.
            Fica claro que houve quebra de confiança entre líderes e liderados no momento em que os primeiros se julgaram acima de tudo e de todos. Sintomaticamente, caíram por falta de legitimidade junto àqueles que diziam liderar. Mais do que isto, demonstraram o quão foram incapazes de ler a realidade, julgando que, a fim e a cabo, seus liderados iriam defendê-los e quiçá, morrer por eles.
O desafio dos líderes sempre está na relação construída junto a seus liderados, seja pela representação, seja pela condição de amálgama (mediação). Como afirma Walter Lippmann, "líderes são os guardiões dos ideais de uma nação, das crenças que ela cultiva, de suas esperanças permanentes, da fé que faz uma nação de um mero agregado de indivíduos." Por outro viés, escreve John Maxwell: “meu alvo não é formar seguidores que resultem em uma multidão. Meu alvo é desenvolver líderes que se transformem em um movimento”. Certo é que não há legitimidade de liderança quando os anseios e necessidades do povo não são respeitados. Certo também que os ventos de inspiração não sopram somente aos que se consideram “iluminados”. A realidade, associada à capacidade de resignação e organização do povo, produz efeitos capazes de construir novos horizontes, novas utopias.
            Nenhuma ditadura merece defesa. Todas as ditaduras tolhem a liberdade. Liberdade não se reduz a “poder dizer”. Liberdade sempre é “poder viver”: autenticamente, com dignidade, com segurança, com prazer, na ausência de “sofrimentos provocados”, com soberania. Resta perguntar se todos aqueles que pegaram em armas, morreram e pagaram o preço por mais liberdade em seu país sabiam que estas ditaduras, agora em cheque, já não interessam mais nem a seus países nem ao resto do mundo por conta de novos posicionamentos de ordem política e econômica. O que farão agora EUA e Europa: continuarão ditando regras e explorando os povos, sem a escora das ditaduras patrocinadas? O fim das ditaduras significa fim da opressão?
            O desafio da liberdade é combater todas as formas de alienação. Onde houver alienação, não há como nascer liberdade. Ainda há muito a aprender, como ensina Eduardo Galeano: “somos o que fazemos, mas principalmente o que fazemos para mudar o que somos”.

            Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

27 de out. de 2011

PENSAR PARA VIVER MELHOR

Pensar para viver melhor
"
Um dos importantes aprendizados do curso de Filosofia, no IFIBE, foi de que devemos estar em permanente busca da verdade. Para tanto, é necessário exercer a criticidade e a coerência entre o pensar e o agir. Outra aprendizagem, igualmente importante, foi a de que todo conhecimento aprendido sempre gera na gente um grande compromisso. Tenho tentado levar minha vida e minha profissão a luz destes grandes ensinamentos. A filosofia me ajuda a ser quem sou, em pensamento e em ação. Vida longa a este educandário". (depoimento Memória Viva - 30 anos do Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE).


“Pensar bem, para viver melhor”, era desejo dos gregos. Para alcançar o real desenvolvimento humano, recomendavam a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça. Na Grécia Antiga competia-se em tudo, sobretudo no campo das ideias e dos destinos da cidade (polis), tendo em vista ser cidadão (capaz de governar e ser governado). Neste sentido, herdamos o desafio de formarmos seres humanos preparados para viver a vida e a cidadania.

Como viver? É uma das perguntas mais importantes a serem respondidas nos dias atuais. Se “é preciso saber viver”, as formas de construir nossa vida sempre passam ou pelo individualismo ou pela coletividade. A sabedoria de nosso poeta maior Gonzaguinha revela que aspiramos por humanidade, construída por várias e distintas mãos, e que somos marcados uns pelos outros. Disse o poeta: “e aprendi que se depende sempre, de tanta, muita, diferente gente. Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas. E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá. E é tão bonito quando a gente entende que nunca está sozinho, por mais que pense estar”.

A tarefa de construir-se sujeito no mundo e sujeito do mundo não é uma responsabilidade reservada a cada um individualmente, mas enseja o modo de ser, pensar e agir no mundo, a partir da coletividade. Esta, por sua vez, deve permitir a construção de uma cidade justa, solidária, que contemple as nossas diferenças.

A maior riqueza da humanidade está nas diferenças culturais, que traduzem o modo de ser, pensar e agir de cada ser humano e de todos os povos. Reconhecer estas diferenças enriquece nosso conceito de humanidade. Somos diferentes nas potencialidades, nos modos de vida e nos pensamentos. As potencialidades humanas requerem reconhecimento social, seja pelos méritos pessoais ou méritos coletivos. Por isto que justiça não pode supor relações subalternas, mas o tratamento da igualdade a partir das diferenças.

O exercício cotidiano do diálogo abre sempre novas possibilidades de construir uma vida mais justa, feita através da liberdade, e considerando a possibilidade da felicidade de todos e todas. Este mesmo diálogo permite transformar a rebeldia saudável dos jovens em atitudes cidadãs, a partir do conhecimento gerado pelo reconhecimento das idéias de todos. O convite que se faz aos jovens estudantes e a todos nós é que nos superemos a nós mesmos, com novas formas de agir e pensar, num espírito de cooperação e amizade. Se a filosofia é arte de pensar, aproveitemos nossas idéias e nossos pensamentos para conquistar novas amizades e novas percepções de vida e de mundo. A humanidade se faz em movimento, de pessoas e de idéias.

Nei Alberto Pies é professor e ativista em direitos humanos

21 de out. de 2011

LIVROS: EDGAR MORIN, Hannah ARENDT, MATURANA, Humberto, ILLICH, Ivan, LÉVY, Pierre, DEWEY, John

MORIN, Edgar (2003): A cabeça bem feita

MORIN, Edgar (2002): Educação e cultura

MORIN, Edgar (2000): Os sete saberes necessários à educação do futuro

MORIN, Edgar (1999): Antropologia da liberdade

MORIN, Edgar (s/d): Da necessidade de um pensamento complexo


ARENDT, Hannah (1949): Origens do totalitarismo

ARENDT, Hannah (1950): O que é política?

ARENDT, Hannah (1957): A crise na educação

ARENDT, Hannah (1958): A condição humana

ARENDT, Hannah (1961): Entre o passado e o futuro (excertos)

ARENDT, Hannah (1971-78): A vida do espírito

ARENDT, Hannah (2000): The portable Hannah Arendt

ARENDT, Hannah (1977): Lectures on Kant's political philosophy

ARENDT, Hannah (1958): The human condition

ARENDT, Hannah (1963): Sulla rivoluzione

ARENDT, Hannah (1967): Verdade e política


MATURANA, Humberto (2004): Entrevista para revista Humanitates

MATURANA, Humberto et all. (2009): Matriz Ética do Habitar Humano

MATURANA, Humberto, DAVILA, Ximena, MUÑOZ, Ignacio & GARCÍA, Patrício (2009): Sustentabilidade o armonía biológico-cultural de los procesos?

MATURANA, Humberto (1993?): A democracia é uma obra de arte

MATURANA, Humberto e PÖRKSEN, B. (2004): Del ser ao hacer

MATURANA, Humberto e DÁVILA, Ximena (2003): Biologia del Tao y el Camino del Amar

MATURANA, Humberto (2002): Emoções e linguagem na educação e na política

MATURANA, Humberto (2001): Cognição, ciência e vida cotidiana

MATURANA, Humberto (1992): El sentido de lo humano

MATURANA, Humberto (1985): Desde la biologia a la psicologia

MATURANA, Humberto (1985): Biologia del fenómeno social

MATURANA, Humberto (1988): Ontologia del conversar

MATURANA, Humberto (1987): Biology of language

MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco (1984): El Árbol del Conocimiento

MATURANA, Humberto & VARELA, Francisco (1984): A árvore do conhecimento

MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco (1973): De máquinas y seres vivos. Autopoiesis: la organización de lo vivo


ILLICH, Ivan (s/d): Antologia

ILLICH, Ivan (1978): O direito ao desemprego criador: a decadência da idade profissional

ILLICH, Ivan (1970): Deschooling society

ILLICH, Ivan (1970): Sociedade sem escolas (PDF)

ILLICH, Ivan (1970): Sociedade sem escolas (RTF)

ILLICH, Ivan (1070): La sociedad desescolarizada (PDF)

ILLICH, Ivan (1970): La sociedad desescolarizada (Word)


LÉVY, Pierre (1999): Cibercultura

LÉVY, Pierre (1998): Qué es lo virtual

LEVY, Pierre (s/d): Plissé fractal

LÉVY, Pierre (2009): From social computing to reflexive collective intelligence

LÉVY, Pierre (2009): Algebraic structure of IEML semantic space

LÉVY, Pierre (2008): La mutation inachevée de la sphère publique

LÉVY, Pierre (2008): L'espace sémantique IEML présenté au "World Knowledge Dialogue"

LÉVY, Pierre (2008): IEML: bilan et perspectives

LÉVY, Pierre (2008): IEML présenté à la Conférence Balisage 2008

LÉVY, Pierre (2008): Architecture of a Semantic Networking Language

LÉVY, Pierre (2008): Service-based IEML

LÉVY, Pierre (2006): Un programme de recherche pour l'économie de l'information

LEVY, Pierre (2000): O fogo liberador

LÉVY, Pierre (1994): Inteligencia colectiva: por una antropologia del ciberespacio



DEWEY, John (1939): Democracia criativa: a tarefa diante de nós

DEWEY, John (1937): A democracia é radical

DEWEY, John (1935): Liberalismo e ação social. Excertos: Liberalismo renascente

DEWEY, John (1929): Experience and nature

DEWEY, John (1928): A idéia filosófica inclusiva

DEWEY, John (1927): O público e seus problemas. Excertos: Em busca da grande comunidade

DEWEY, John (1927): O público e seus problemas. Excertos: Em busca do público

DEWEY, John (1888): The ethics of democracy

17 de out. de 2011

SER PROFESSOR

Ser Professor

É buscar dentro de cada um de nós
forças para prosseguir, mesmo com toda pressão,
toda tensão, toda falta de tempo...
Esse é nosso exercício diário!
Ser professor é se alimentar do conhecimento
e fazer de si mesmo janela aberta para o outro.
Ser professor  é formar gerações, propiciar o
questionamento e abrir as portas do saber.
Ser professor  é lutar pela transformação...
É formar e transformar,
através das letras, das artes, dos números...
Ser professor  é conhecer os limites do outro.
E, ainda assim, acreditar que ele seja capaz...
Ser professor  é também reconhecer que
todos os dias são feitos para aprender...
Sempre um pouco mais...
Ser professor
É saber que o sonho é possível...
É sonhar com a sociedade melhor...
Inclusiva...
Onde todos possam ter acesso ao saber...
Ser professor é também reconhecer que somos,
acima de tudo, seres humanos, e que temos licença para amar, rir, chorar,esbravejar e ser feliz.
Porque assim também ajudamos a pensar e construir o mundo.
Todos os dias do ano são seus, professor!
Parabéns!

12 de out. de 2011

DOS PROFESSORES, DE TODOS OS DIAS.

Dos professores, de todos os dias.

“As verdadeiras questões da educação resultam de que nas escolas há pessoas jovens, que devem ser ajudadas, tanto quanto possível, a serem felizes. E em que a felicidade dessas pessoas, como a de todas as outras, consiste em satisfazerem a ânsia profunda que têm de verdade, de bem e de beleza. Não em terem coisas e conforto”. (Paulo Geraldo)
Nós, professores e professoras de todos dias, mergulhamos no complexo desafio de humanizar crianças, adolescentes, jovens e adultos a partir da construção do conhecimento. Os tempos mudam, mas não mudou o papel da escola. A escola é o grande laboratório onde se geram a socialização e convivência interpessoal, bem como a construção do conhecimento, a partir das idéias e iniciativas inerentes à criatividade humana.
Abençoada seja a nossa missão de educar. Abençoados sejam nossos propósitos, mesmo nem sempre compreendidos pelos alunos, pais e comunidade. Abençoadas sejam nossas famílias que se geram neste contexto que exige ousadia, paciência, preparo e persistência, em resumo, em doação à vida dos outros. Abençoada seja a nossa saúde física e mental, pois não podemos adoecer e nem fraquejar. Abençoados sejam todos aqueles e aquelas que, por nossas mãos, mentes e coração aceitaram e aceitam o desafio de fazer-se gente, a partir dos seus potenciais e da superação de seus limites. Abençoados todos aqueles que acreditam no trabalho do professor.
Nada mais gratificante em nossa profissão do que o reconhecimento de alunos e alunas que, mesmo tardiamente, fazem questão de afirmar que a gente fez diferença em suas vidas. Não há como medir, no cotidiano da vida escolar, quando e como realizamos ações ou atitudes que marcaram positivamente a vida de um de nossos alunos. Afinal, a gente nunca foi e nunca será gênio para adivinhar; sempre seremos visionários para arriscar, mudar e ousar. Nisto, sempre fomos mestres.
O que entristece a nossa vida é que tanto cuidamos da vida, dos sonhos e dos problemas dos outros, mas nem sempre somos bem cuidados. Queríamos, sim, reconhecimento por nosso maior feito: preservar a importância da educação e da escola para o nosso país, para o mundo.
Muitos falam de educação, mas não são professores. Arriscam palpites sobre melhorias na educação, mas não perguntam sobre o que a gente tem a dizer. Não se importam com nossos baixos salários, muito menos com nossas dificuldades de lidar com as múltiplas dimensões e necessidades presentes nos nossos alunos. Nestes últimos quesitos, lutamos solitários. Embora não tenha mudado o papel da escola e da educação, mudaram as exigências para que possamos construir uma boa aprendizagem. Temos observado que nem todo aluno e nem todos os pais vêem a escola como uma forma de inserção na vida social e científica. Que as necessidades dos nossos alunos estão muito além para aquilo que a escola consegue oferecer. Que escolas e professores nem sempre estão em condições de dar conta de tudo o que está “depositado” neles.
O fato é que, a complexidade de nosso mundo é a complexidade da nossa escola; esta complexidade está nos distintos recantos de nosso país. O que muda de uma escola para o outra é o modo de conduzir os processos de aprendizagem e de interação social, mediados pelo conhecimento. A especificidade de cada escola e de cada contexto é que precisam ser sempre avaliados, reconhecidos e apoiados.
O professor, neste contexto, está fragilizado, exposto e pressionado por resultados e expectativas que não dependem somente de sua atuação. Mas professores e professoras resistem bravamente. Sabem que a dureza dos desafios cotidianos supera-se na disposição de lutar por melhores dias na educação, mas também na sua disposição de amar e sentir compaixão. Como escreveu Paulo Freire, não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Nossos dias se chamam “muito trabalho”. Nosso alento, “esperança de dias melhores”.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos

10 de out. de 2011

DE POLÍTICOS E DE ANJOS

De políticos e de anjos
“Não somos anjos em voo vindos do céu, mas pessoas comuns que amam de verdade. Pessoas que querem um mundo mais verdadeiro, pessoas que unidas o mudarão”. (Gente, de A. Valsiglio/Cheope/Marati).
Muitos, dentre a gente, gostariam que políticos fossem anjos. Se assim fosse, estaríamos imunizados contra todas as situações e oportunidades que não promovem o bem comum, que deturpam a cidadania e que não favorecem a prática da bondade. Mas os políticos, assim como cada um de nós, são seres humanos, ou seja, imperfeitos. A política não é um espaço para a ação de anjos, mas é o espaço de disputa dos mais diferentes interesses que estão em jogo na sociedade. A disputa destes interesses é legítima, desde que os mesmos estejam sempre bem explicitados, para que todos saibam o que move aqueles que se propuseram os interesses da maioria da população. 
As contradições no exercício do poder estão sempre presentes nos movimentos que operam a política. Os políticos posicionam-se a partir das conjunturas e contextos de cada momento, das articulações e negociações que são possíveis para aprovar os projetos que estão em pauta, das forças sociais que estão mobilizadas em cada momento histórico. É natural que joguem com seus interesses, mas é inaceitável, numa democracia, que estes interesses sobreponham-se aos interesses coletivos.
As agremiações partidárias (partidos políticos) expressam e materializam os projetos em disputa na nossa cidade, estado ou país. Estes projetos traduzem-se em propostas concretas de como governar, de como construir as políticas públicas, de como distribuir a renda, de como construir as oportunidades, de como desenvolver uma cidade, um estado, uma nação. Há então que se discernir sempre que há diferenças do voto em pessoas ou do voto em projetos, que embora “sempre juntos e misturados”, traduzem-se em diferentes consequências. “O voto não tem preço, tem consequências”. Por isso mesmo, é necessário sempre contemporizar as posições e atitudes pessoais de cada agente político com os projetos que ele representa, observadas as circunstâncias e as intencionalidades em que ambas acontecem. Nenhuma ação ou virtude deve ter um peso considerado isoladamente.

Os políticos não os anjos e não representam a si próprios, mas representam interesses que estão em disputa na sociedade. Talvez até fosse melhor sermos governados por anjos, seres sobrenaturais e imunes a qualquer interesse mundano. Mas diante desta impossibilidade, via de regra, deveriam sempre valer muito mais os projetos com os quais os políticos estão comprometidos. Nestes projetos, a vida e a dignidade humana, o apreço pela liberdade e pelo bem comum são componentes que jamais podem ser negociados. Neste contexto, talvez, exerçamos algum poder de anjos.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos. (pies.neialberto@gmail.com)

3 de out. de 2011

EDUCAÇÃO... QUAL A MELHOR ESTRATÉGIA PARA EDUCAR?

Elogie do jeito certo
MARCOS MEIER[1]
Recentemente um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, mas que as crianças executariam sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.
O grupo A foi elogiado quanto à inteligência. “Uau, como você é inteligente!”, “Que esperta que você é!”, “Menino, que orgulho de ver o quanto você é genial!”... e outros elogios à capacidade de cada criança.
O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. “Menina, gostei de ver o quanto você se dedicou na tarefa!”, “Menino, que legal ter visto seu esforço!”, “Uau, que persistência você mostrou. Tentou, tentou, até conseguir, muito bem!”... e outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança em si.
Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Elas não eram obrigadas a cumprir a tarefa, podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de consequência.
As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa. As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.
A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. As crianças “inteligentes” não querem o sentimento de frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso pode modificar a imagem que os adultos têm delas. “Se eu não conseguir, eles não vão mais dizer que sou inteligente”. As “esforçadas” não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que será elogiado.
Nós sabemos de muitos casos de jovens considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens “médios” obterem a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua capacidade e deixaram de se preparar adequadamente.
Os outros sabiam que se não tivessem um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma das disciplinas.
No entanto, isso não é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos e nossos alunos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, focados no ego de cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado.
Nossos filhos precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “parabéns meu filho por ter dito a verdade apesar de estar com medo... você é ético”, “filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas fizeram... você é solidária”, “isso mesmo filho, deixar seu primo brincar com seu videogame foi muito  legal, você é um bom amigo”. Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real.
Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual. “Que linda você é amor”, “acho você muito esperto meu filho”, “Como você é charmoso”, “que cabelo lindo”, “seus olhos são tão bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em comportamentos, nem em atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente.
Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.
Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa.


[1] Marcos Meyer é mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante.