5 de abr. de 2015

Generalizações destrutivas

Generalizações destrutivas
Vivemos um momento histórico bem controverso. A defesa do bem e do mal se alicerça em fundamentalismos sem fim. Abrão Slavutzki, psicanalista, articula brilhantemente em artigo “Simplificações perigosas”, publicado em ZH do dia 01 de abril de 2015: “as simplificações são perigosas, pois nos empolgam com explicações fáceis para tudo. Os ódios crescem contra os únicos culpados de todo o Mal. Encontrar o bode expiatório é a salvação do mundo. Começa assim a se abrir o caminho para as ditaduras”. Em tempos de frágil democracia, é preciso perguntar-se pelas conseqüências destas posições antagônicas.
Há cada vez mais gente querendo ser "uma pessoa de bem". Em busca de explicações e razões de ser deste desejo, comecei a conversar e pesquisar. Para minha surpresa, muitos concordam na percepção de que há uma multidão querendo "ser do Bem". Confessaram-me que muitos necessitam dizer-se do Bem, para diferenciar-se dos demais. Decidi então sugerir a estes a organização de uma Irmandade ou um "Partido do Bem". Como partido, democratizando nossas ideias, poderiam representar o Bem como poderosa ferramenta para combater todo o mal, principalmente as sofisticadas maracutaias que teimam em "tomar nosso dinheiro público”. Tal ação favoreceria todos que desejam ser do Bem agrupar-se, criando uma Plataforma de Intenções, para promover debate mais amplo sobre o que vem a ser o próprio Bem.
É necessário compreender a nossa dimensão humana, pois somos, por natureza humana, um pouco bons e um pouco maus. Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno, estamos sempre em busca do necessário equilíbrio. As religiões e as diferentes filosofias sabem disso, por isso sua insistência em ajudar a equilibrar os pensamentos e as ações cotidianas. Por sua vez, aqueles que precisam diferenciar-se dos outros devem sofrer por seu perverso egoísmo. Só o ego pode explicar a razão de ser daqueles que necessitam se declarar pessoas de bem. O reconhecimento do bem e da maldade que a gente faz, pelas palavras e pelas ações, sempre é prerrogativa dos outros. Não pode ser jamais prerrogativa subjetiva, para alguém achar-se superior ou mais importante do que os outros.
Pelas razões expostas, é preciso perceber que as simplificações como as generalizações em nada contribuem para enfrentarmos um problema nacional agora amplamente debatido em nossa sociedade: a corrupção brasileira. Como Abrão, acredito também que a corrupção “se combate com a Justiça e o engajamento da sociedade, respeitando a democracia”.  Quanto aos políticos, é preciso compreender as contradições do exercício do poder. Os políticos posicionam-se a partir das conjunturas e contextos de cada momento, das articulações e negociações que são possíveis para aprovar os projetos que estão em pauta, das forças sociais que estão mobilizadas em cada momento histórico. É natural que joguem com seus interesses pessoais, mas é inaceitável, numa democracia, que estes se sobreponham aos interesses coletivos.
Não matemos nem a política e nem a democracia! Quando as palavras se tornam absolutas, a vida em sociedade perde seu sentido e seu valor.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.