20 de jul. de 2012

DIA DO AMIGO...

De amizade, amor e afetos.

“Não somos a fonte do amor. É que o amor não se impõe, o amor se gera na liberdade. O amor é busca e conquista. Trata-se de buscar e conquistar a dignidade para a qual fomos criados”. (Vídeo Afetividade e Sexualidade, Mundo Jovem)

                Nossa civilização “encaixotou” o afeto. Sim, logo o afeto que nos estimula a criarmos as condições para nossa plena realização humana. O ser humano é um ser em construção e que, por isso mesmo, demanda e exige investimentos afetivos a vida toda. O cuidado, como algo essencial e que constitui a nossa condição humana, deve ser resgatado se quisermos devolver à humanidade o verdadeiro sentido de sua existência.
            Em nossa trajetória de humanos, não sobrevivemos se não somos bem cuidados. Somos, na escala dos seres vivos, os mais dependentes de todos. Saímos da barriga da mãe, caímos nos braços de uma família. Aos poucos vamos crescendo e nos integrando aos grupos sociais da escola, da vizinhança, dos amigos, dos colegas de trabalho. E, cada fase de nossa vida, exige que sejamos cuidados. E que saibamos cuidar, da gente e dos outros. E, somente juntos, promovemos relações que nos integram à sociedade, pois temos, todos, a necessidade de nela sermos aceitos, queridos e promovidos.
            A necessidade do cuidado e as carências afetivas, próprias do ser humano, não significam nenhum atestado de fraqueza humana. O que nos torna fortes, capazes de superar as nossas maiores contradições, é a nossa capacidade de encarar as nossas maiores carências, pois estas nos despertam para o crescimento e discernimento pessoal, afetivo e social.
            Como seres de e em relação, os outros são aqueles que, através da convivência, nos permitem imensas possibilidades de auto-conhecimento. Nossos relacionamentos afetivos e sexuados sempre carregam as marcas da sexualidade que nos compõe. Por isso, “o amor é a necessidade gostosa do outro. Fala-se em complementariedade, porque não somos felizes voltados sobre nós. Uma pessoa que admiramos carrega dentro dela uma ternura que nos faz bem”.
            As amizades, relações que comungam de partilha, de compreensão, de doação, de gratuidade, de mútua ajuda e confiança são oportunidades que muitos constroem por acreditarem que a sua realização, como pessoa humana, depende da integração, convivência e complementariedade a serem construídas com os outros. São também, excelentes oportunidades de vivenciar a doação. Por que “o amor é doação. Tudo o que contradiz a doação, machuca. Ninguém é mais do ninguém, porque na doação todos somos iguais e temos a mesma vocação. É neste ser-doação que mora o divino de cada um”.
            Redescobrir-se como um ser em permanente relação com os outros pode ser a grande contribuição que cada um, individualmente, pode oferecer para a elevação de uma nova consciência de humanidade. Reconhecer e vivenciar valores como a solidariedade, a amizade, o amor, a partilha, a alteridade pode nos possibilitar um mundo onde existam menos violentos e menos violentados.
            A solução duradoura para os problemas de convivência social não passa pela construção de novos presídios e nem pelo endurecimento de nossas leis. A cura destes males está na promoção da vida e da humanidade, através do cultivo do amor e do afeto. E na promoção da justiça. Está em nós. Romantismo? Não. Crença na minha e na tua possibilidade de fazer a diferença, enquanto seres que ainda acreditam na força do amor e da amizade. Repare que cada dia que amanhece é sempre um convite para você crer que o amor cura e o abraço salva.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.
           

12 de jul. de 2012

Das vantagens em cooperar

Das vantagens em cooperar


“Aquele que alivia o fardo do mundo para o outro não é inútil neste mundo” (Charles Dickens)

2012 foi escolhido pela ONU para ser o Ano Internacional das Cooperativas. Parece bem justa e oportuna esta comemoração, mas será que temos presente porque e como o cooperativismo pode gerar qualidade de vida e alternativas de produção, consumo e comercialização? A cooperação é mesmo uma ferramenta capaz de desencadear outras e novas relações humanas?

A nossa civilização construiu um ideário de convivência social com base na competição. Somos impelidos a ver todas as vantagens em competir e nenhuma vantagem em cooperar, o que nos dá a falsa impressão de que cada um e cada uma se basta a si mesmo. Se cada um se basta a si mesmo, estamos liberados para ser, pensar e agir deliberadamente, sem medir quaisquer conseqüências que possam envolver ou atingir os outros. Deste modo, ao desaprendermos a cooperação, empobrecemos as nossas relações sociais e a nossa própria condição de humanidade, que se realiza a partir da interdependência com os outros. Ao abrirmos mãos da intrínseca relação entre o eu e o outro, perdemos a dimensão da construção social que é sempre coletiva; que nos faz humanidade em movimento.

Nossa cultura alimenta-se de ideários individualistas na medida em que estimula, ao máximo, a busca da superação pessoal, a partir de nossa autodeterminação. A máxima expressão do modo de levar a vida hoje, para muitos, foi cunhada pelos romanos: “se queres paz, prepara-te para a guerra”. Outra máxima: “minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro”, propõe, igualmente, a construção de uma liberdade individualista, supondo haver uma linha limítrofe entre a minha ação e a ação dos outros. No entanto, a liberdade pressupõe um pacto de cooperação mútua para ambos alcança-la. Dito de outro jeito: somos sempre condição para a liberdade, nossa e dos outros.

Preocupa que, mesmo sem perceber, temos sido muito permissivos na construção de um modo de vida extremamente individualista, que prega o uso de todos os meios para a construção do sujeito social, inclusive o uso da violência, do deboche e da competição desmedida. Neste contexto, não há preocupação com a resolução dos conflitos, com os contextos e as condições em que vivem os outros; busca-se somente consolidar uma situação em que os vencedores se afirmam a partir do sufoco, superação ou “abafamento” dos vencidos.

O que caracteriza nossos tempos é que refinamos cada vez mais nossos instintos competitivos, dando-lhes uma forma e um conteúdo mais definido. Além de estar mais claro, este ideário está agora disponível às novas gerações. E em tempos em que tudo o que é assimilado deve ser aplicado, muitos desejam colocá-lo em prática, sem escrúpulos, sem reflexão. Afirmam-se pela arrogância de vencedores.

E a cooperação? Bem, a cooperação parece não trazer vantagens suficientemente consistentes para inspirar um ideário ou um modo de vida. É geralmente tratada como solução em situações limites da vida como os conflitos interpessoais, as relações de médico-paciente, as situações que envolvem assaltos e roubos, na ajuda humanitária e solidária a pessoas em iminente risco de vida.

As vantagens da cooperação estão em promover a vida na dignidade, em qualificar as nossas relações sociais. A cooperação é uma ferramenta para nos fazermos gente, em comunidade. É a possibilidade de vivermos em condições menos estressantes, capazes de reconhecimento mútuo e recíproco, capazes de aceitar que ninguém se basta a si mesmo. Quem pensa assim, nos acompanhe!


Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.
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